segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O silêncio da fala

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É impressionante como buscamos sempre o que escrever, como procuramos sempre palavras que possa descrever sensações, acontecimentos, pessoas, indagações, até mesmo as próprias palavras. A escrita é o silêncio da fala. Tomei um vício de fazer isso, é algo compulsivo que me consome e que nem sempre me satisfaz. Qual a solução? Também gostaria de saber. Mas acho que a pergunta mais correta seria: Qual é o problema?, e assim perguntando, surge o problema, Mas surgiu só por não haver o problema? Então a falta de problema já seria um problema. Pronto, eis a solução: ter um problema. Parece doidera, não ? Também achei quando percebi que tinha um problema. Eu sou o problema, o meu problema.  Não analisa, não!


Essencialmente, não há, de fato. Mas necessitamos sempre indagar as coisas, buscar suplemento pro que já é completo, entender o incompreensivel, ver o invisivel, e tudo mais que se anule. Mania de insatisfação.
E falamos, questionamos, defendemos, afirmamos, negamos... e tudo que envolva a fala. E não percebemos que o que há de mais belo está no silêncio. Mas não no silêncio do surdo, isto não tem nada de belo. E sim no silêncio visivel, aquele que não são os ouvidos que vão nos dizer. É preciso escutar o silêncio como um cego.
 Há coisas muito importantes a dizer, que de tão importantes, não deveriam ser ditas, pois só é sincero aquilo que não se diz, só o silêncio é sincero. Com ele se diz mais que mil palavras em vão.
O silêncio de alguém dormindo é sincero, porque é quando nos revelamos nós mesmos. E mesmo quando roncamos, essa é a luta para conquistar o silêncio, é a luta de Deus contra os maus elementos, e Deus sempre vence. Vejam os mortos, eles não falam, porque Deus venceu. O silêncio é a linguagem de Deus.
O silêncio é sincero, repito. Sincero como a flor, que nada diz, e já se diz por si só. Não precisa de palavras, imagine uma flor falando... como ela perderia a essência. Muitas palavras ditas nos fazem destruir tudo o que construimos em nós, destruir a nós mesmo. Não há nada mais completo do que o silêncio.
Ah, e a música, a expressão completa, com suas cadências e melodias... também é sincera. Pois vejam só, a música é silêncio, é o movimento dele. O ar, não se sente, não se escuta. E o vento, se sente, se escuta. E o vento é essencialmente o ar em movimento, o que torna a música o movimento do silêncio.
As palavras estão em quem fala e em quem escuta, é necessário os dois para o silêncio, pois este fica entre os dois, no processo de um para o outro. 
O que mais se não o silêncio de tudo para ouvir melhor. Refleti muito e percebo que é preciso calar o coração, a mente e principalmente a boca, para escutar o silêncio do mundo. O silêncio do cego, e não do surdo.



(completamente baseado em encontro marcado) 
Pr: 10,19 / 12,14-23

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